quinta-feira, 28 de abril de 2011

Decepção.

Despedacei. Caí de um altura de todos os metros. Recolho cada pedacinho pra tenta reinterar. Completo mas rachado, não é mais belo. Ficou fosco, perdeu o valor. Espatifei. Só vou me apegando à pegadas apagadas e mal pagas. Virei o rosto e tomei um tapa. Fui dar um beijo que nem mamãe mandou. Os monstros debaixo da cama crescem junto comigo. Se nomeiam: crueldade, traição, hipocrisia. Tão pouca fé no coração. Continuo me catando em cada esquina. Eu me perdi. Cadê o chão? Ficou bambo esse desequilíbrio. Entrou nas costas, soube como cravar. E foi ruindo. Escorrendo. Se desfez. Adeus é uma distância tão pequena de você.

sábado, 16 de abril de 2011

Desparida quero ser.

Força, puxa. Pára. Força, mais força. Pára. Dois segundos e... Força, força... Parida parei nesse mundo. Respiro dentro de um agudo choro tento me apresentar. Oi, mundo. Cheguei depois de tanto nadar lá dentro. Ora apertada, ora expansiva, dava murros e pontapés. Cortam o cordão umbilical, sou parte oficial, agora. Uma pequena parte desse universo todo. Abro os olhos. Não entendo... Peraí! Estão queimando mulheres ali... Ninguem escuta meu grito sufocado dentro da câmara de gás com mais de um milhão de judeus. Alguem escutou meu choro no pau de arara quando insistiam em perguntar onde estavam os comunistas? Como eu vim parar aqui? Por que me colocaram aqui? Pra que nascer? Só vim dar um recado que mandaram: "Amai-vos uns aos outros" mas parece que um cara já veio falar há uns dois mil anos e foi crucificado por causa disso... Eu não. Não dou jeitinho. Não me escondo mas também não me desvendo. Não dá pra me mandar de volta que nem devolução de produto no mercadinho? Não dá pra coisificar ou reinventar? É que não me mandaram com manual ou mapa pra me encontrar, só disseram "vai lá e vive". "Sobre vive". Tô tão contaminada que não tenho coragem de voltar, é torturoso por demais. Ei, cadê a humanização dos intelectuais? Tanta gente inteligente que ainda não inventaram uma máquina de sentir? De afetos, puros, apurados e despudorados. Eu não quero entender, não pedi pra entender. Não pedi pra vir ao mundo! Mas me animaram tanto e me queriam tanto. Os monstros do meu armário de 6 anos nem eram tão assustadores assim, percebo. Ao contrário do poeta quando morrer, não quero ficar. Recolham cada pedacinho meu e desapareçam com tudo, não deixem nada. Nem pó. Quero romper. Quero ir pra não voltar. E eu vou, olha que eu vou! Acabou. Mais uma vez abro os olhos e, decido ir inspirando um dia de cada vez respirando.

No playlist toca: "Perto de você", (Fernando Anitelli).

domingo, 10 de abril de 2011

Presa aqui fora.

Você taí? É que eu não te escuto, fiquei presa lá fora. Talvez se eu voltasse outra hora, te encontrasse fora de casa. As paredes continuam geladas e a luz apagada? É que eu não paguei a conta. Foi tudo acumulando e quando percebi eu me afoguei. Em contas, contos, descontos e emails. Nem meio pedaço e nem inteiro. Já não existe mais. Ficou num retrato longíquo do que seria. Foi medo, desengano, acalanto ou encanto? A gente não sabe quando se quer pouco e se perde em tanto. Eu fiquei. Esperei com a porta aberta. Nem quando bateu o sereno eu fechei. Costurei cada rasgo de lágrima, cada bainha de dor. E os lençóis continuaram dobrados mas você não veio me cobrir. É que ficou frio de repente, já não sei usar o aquecedor. As vezes eu me "microondo" pra tentar enganar: aquece de dentro pra fora. Breve mentira que mantém a pouca sanidade dentro de uma variação e humores, rumores, devaneios que desistiram de me perseguir. Agora eu é que persigo eles. É que, talvez, só assim eu ainda consiga manter, rever, lembrar, reter. Tudo escorre entre meus dedos feito areia. Meu equilíbrio, juventude, velhice e pobre idílio que insiste em se apoiar naquele batente. Desmorrendo aos poucos e eu to meio cheia, um pouco vazia. Quais as partes que prevalecem em mim só Deus sabe! O que eu ainda quero? Nem eu mais sei! Porque quando a gente encontra um pedaço perdido onde não foi procurar percebe que nem sempre fez o caminho de ida.

 No playlist toca: "Tudo diferente", (Maria Gadú).

domingo, 3 de abril de 2011

Três Marias(dedicado às minhas Marias).

Uma caiu no mar, uma caiu na terra, outra caiu no ar. Eram divinas, tinham sido encomendadas  no céu, talhadas à mão e inexoravelmente destinadas umas as outras. Eram pouco mais que duas e muito menos que seis, formando o total de três. Maremoto, terremoto e furacão. Era o que causavam separadas e caídas. Se perdiam, se procuravam, se machucavam e feriam. Era profundo, era deserto, era vácuo. A fome não era saciada, nem os lamentos recolhidos. Não tinha remédio que curava, não tinha veneno que matava. Se precisavam porque separadas de nada adiantava. Que poder tão grande e simples podia conter aquelas três quando se descobriram e se reconheceram: era uno. Claro e embaralhado. Tudo para elas era revelado, aos outros, um tanto embaçado. Suas palmas se encontraram quando seus destinos se cruzaram. Se entederam quando mais nada era explicado. Caminharam quando os céus lhes foram designados. E uma explosão de cumplicidade as elevaram. Voaram. Voltaram. E lá entre as estrelas, as três Marias se encaixaram.

No playlist toca: "Suave", (Jorge Vercillo).