terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Bela adormecida

Gosto de sonhos. Lá tenho encontros, lá a saudade acaba. Os meus resquícios reais se tornam irreais e um pedaço meu se descobre inexistente ao não deixar de existir. Valorizo cada ilusão dessa realidade rendida que toma pra si o inverso do pranto; lá eu danço minha harmonia com tons degradés. Grito segredos sussurrados e saboreio doces delírios que se deliciam com meu gozo por não durar. É que eu tenho hora, não posso demorar. Ele é efêmero e me faz aspirar. Cada cantinho. Que eu possa cantar. Melo-dias intermináveis que parecem não passar. Gosto de novo, esse dejavú, quando acorda em acordar. Não colo pedaços de um sonho pra outro, são egoístas, únicos na sua forma de se apresentar. Não divido porque de vida nada vou levar. Não posso dormir pra sempre porque isso seria não sonhar. Não posso controlar meus sonhos porque isso seria não desejar. Quero não deixar a vida para saber diferenciar. O que apetece do que há e, do que eu queria que houvesse. Parte desse mundo vai lá. E me traz de volta pra cá. Lá sou surpreendida, não morro. Só montanhas. Vale. À pena do que é despertar. Vivo pra (sempre) nesse mundo poder voltar.

No playlist toca: "When you kiss me", (Shania Twain).

sábado, 17 de dezembro de 2011

Climatempo

Hoje acordei lagrimosa. Assim meio dengosa sem vontade de ver lá fora. Tem vento batendo na janela mas não vou abrir. Hoje acordei com vontade daqui. Hoje acordei com vontade de ficar sem vontade, nostálgica e mal amada. Hoje acordei musicada no chorinho. Nem um sambinha, salva. Tem uma nuvem cinza lá fora. Uma nuvem negra aqui dentro. O temporal chegou antes do lado de cá. Tem água escorrendo, infiltração nas paredes. E por enquanto não vou mandar consertar.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O palhaço e a bailarina

Ele havia perdido seu nariz. Ela, a sua sapatilha. Ele não conseguia mais sorrir. Ela custava a caminhar. Pra quem sempre foi acostumada a andar nas pontas, era difícil ser pé no chão. Ele não borrava mais e ela, tropeçava o tempo todo. Sangravam. Tão vermelhos. Aqueles pés. Aquele nariz perdido. Acerca de tantas outras futilidades, nunca haviam se enxergado. Ele tão preocupado com a alegria. Ela tão preocupada com os movimentos. De não seguir. O coração? Ah, batia de acordo com o acorde. Notas ruborizadas naquele boletim jamais gabaritado. Não acertavam tudo. Não erravam nada. Ela queria sua última dança, ele queria sua última gargalhada. Uma flor de borracha que esguichava lágrimas. Já não sabia fazer sorrir; já aprendera a fazer con-doer-se. De si? Nem dó. Porque era tão mais fácil ter pena, era tão mais leve. Eram tão mais culpados do que não queriam sofrer, tão vitimizados por não perceber. O picadeiro não existia mais. A barra da bailarina estava pesada demais. Não dançavam conforme a música, não brincavam conforme o som. E deram as mãos para bailar nesse belo pas de deux. Porque enquanto ela buscava um sorriso, ele seguia seus passos.

No playlist toca: "Thought of you", (Ryan Woodward).

sábado, 10 de dezembro de 2011

Talvez

Talvez não seja pecado. Te desejar, quem sabe. Não sinto mais vergonha de te imaginar em mim. Parei de parar. Talvez esse tenha sido o melhor beijo que já sonhei, o melhor toque que ainda não senti. É que eu nunca não senti medo de desejar. Você me faz ter medo. De não conseguir mais sonhar. Contigo. Comigo. E não pode ser errado. Porque eu já rabisquei a nossa história. Talvez você não perceba. Talvez eu não te deixe me olhar nos olhos. Talvez eles confessem. Talvez você saiba. Talvez, não. Não. Tenho. Certeza. De que vou te ter pra sempre. Dentro de mim. Vou guardar recortes de você. Retalhos de cada segundo contigo, não vou deixar de lembrar. Talvez nossos filhos leiam isso. Os seus filhos. Os meus filhos. Nossos. Passos caminham lado a lado mas um dia a gente se encontra? Talvez. Um dia você não deixe de ser meu farol e eu me guie por você. Talvez com a claridade percebamos que vai passar. Vai sarar. Cicatrizar. Talvez eu nunca deixe de respirar você, talvez você se encontre na palma da minha mão. Talvez um dia seu cavalo fale inglês e eu seja a noiva do caubói. Talvez eu te entrelace. Em meus pensamentos há nossa vida, talvez...

Não serve mais

Volta pra buscar o amor que você deixou aqui. Guardei no fundo da gaveta e ele empoeirou, não quero mais. Pensei polir de vez em quando mas não aguento segurá-lo. Sempre tão pesado. Não cabe em minhas mãos. Desculpa cobrar mas é que ele vem tomando espaço, preciso arrumar minhas coisas... E a verdade é que eu quero me livrar disso! Não é mais meu. Não sei também se, ainda, é teu. O que não pode é ficar solto. Um dia ele estava na moda, eu lembro. Desfilava com ele pra cima e pra baixo, exibia no meio da cara e até se não perguntassem, eu fazia questão de responder: "Meu amor é teu!". Mas, hoje em dia, não dá pra usar mais. Eu emagreci e ele não cabe mais em mim; já tentei ajustar a costura mas quanto mais eu mexo, mais ele deixa de ser o modelo que era. Então pra quê, né? Por isso, passa aqui qualquer dia pra tomar um café, conversar e levar esse entulho. Eu estou te doando o que um dia eu te dei. É que a diferença entre uma coisa e outra é que só doamos o que não nos serve mais. Então experimenta. Em você pode não estar pescando, alargando, sambando... Mas aqui não tem mais espaço, não.

No playlist toca: "Rua A", (Graveola).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Que o destino não se atreva,
agora que te vi,
me desviar.
Não posso mais, não me atrevo mais
seguir sem ter você.
São teus passos que meus pés vão seguir, na tua boca minha pele vai revelar
nossos segredos e memórias já escritas,
que eu nunca procurei mas conseguiram me encontrar.
Faz teu abraço meu chão,
me anestesia com teu cheiro,
me faz perder a razão.
Me dá um filho.
Realiza teu conto de fadas,
estou a seu dispor.
Entrelaça teus dedos nos meus, inspira o ar da minha respiração.
Escuta dentro do meu peito cada batida da tua direção.
Brinca de ser feliz comigo!
Você é eu e eu sou você;
tua maior dor,
teu maior prazer.
Entre lençóis e peles
É minha saliva no teu suor.
Não jura amor eterno
Com o "pra sempre" não se pode jogar.
Te quero como disse o poeta:
sendo eterno enquanto durar.

No playlist toca: "L'amoureuse", (Carla Bruni).

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Foi um sonho medonho..."

Sonhei que cactos ganhavam vida e assaltavam minha casa.


No playlist toca: "Chop Suey", (System of a Down).