segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O palhaço e a bailarina

Ele havia perdido seu nariz. Ela, a sua sapatilha. Ele não conseguia mais sorrir. Ela custava a caminhar. Pra quem sempre foi acostumada a andar nas pontas, era difícil ser pé no chão. Ele não borrava mais e ela, tropeçava o tempo todo. Sangravam. Tão vermelhos. Aqueles pés. Aquele nariz perdido. Acerca de tantas outras futilidades, nunca haviam se enxergado. Ele tão preocupado com a alegria. Ela tão preocupada com os movimentos. De não seguir. O coração? Ah, batia de acordo com o acorde. Notas ruborizadas naquele boletim jamais gabaritado. Não acertavam tudo. Não erravam nada. Ela queria sua última dança, ele queria sua última gargalhada. Uma flor de borracha que esguichava lágrimas. Já não sabia fazer sorrir; já aprendera a fazer con-doer-se. De si? Nem dó. Porque era tão mais fácil ter pena, era tão mais leve. Eram tão mais culpados do que não queriam sofrer, tão vitimizados por não perceber. O picadeiro não existia mais. A barra da bailarina estava pesada demais. Não dançavam conforme a música, não brincavam conforme o som. E deram as mãos para bailar nesse belo pas de deux. Porque enquanto ela buscava um sorriso, ele seguia seus passos.

No playlist toca: "Thought of you", (Ryan Woodward).

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